sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"Podia ser o fim de qualquer Amor" - 5º Parte

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As janelas altas estão todas a falar durante o tempo inteiro que lá está.


Quem sabe o que aconteceu? A luz entra a matar. Diz que sim. Diz que vai. É um dia de semana. Não há problemas. Não há atrasos. É um dia novo. Diz que sim. Pensando bem.
Com a vida inteira á frente como se nunca tivesse amado. Não. Não como se nunca tivesse amado. Na verdade como se nunca tivesse sido amado.
Porque afinal, à coisa mais pequena da vida morre a coisa maior."

"Podia ser o fim de qualquer amor" - 4ª Parte

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Em dia.Em dia de inverno, no fim de uma história. Sentado num banco de Hotel quase vazio, com um livro ao lado. O amor é uma forma de organização. Ocupa, arruma, decide por nós. Telefona-se antes de dormir, almoça-se de costas para o mar, discute-se tudo o que acontece. O amor. O amor tem os dias contados. Não se pode contar com a força dele.





Não se pode contar uma verdadeira história de amor. Quem é que a queria ouvir? Só uma história passada com outras pessoas. Só uma história parada antes de chegar ao fim.Os sítios sabem mais que as palavras. Diz que sim. A coisas acontecem mais em elas do que em nós. As janelas altas estão todas a falar.


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(Continua)

"Podia ser o fim de qualquer Amor" - 3a Parte

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Fica só muito tempo do tempo todo que não se soube como passou. O amor é um trabalho de atenção. Diz que sim. Basta um abrir e fechar de olhos e perdeu-se. E o coração lançado à rua, desempregado de repente. Num dia de sol. O amor é uma força que não presta para mais nada. O que é que se pode fazer?




O que se pode fazer quando o amor nos larga? De repente há tempo para ler, tempo para os amigos, tempo para o trabalho, tempo para o olhar. Diz que sim. Há tempo para tudo, mas é tudo sem querer.
E depois um dia acorda-se, vai-se á mesa, lê-se a última página do último livro que se tinha para ler, abre-se a agenda, e verifica-se que tudo está em ordem e que se está finalmente em dia.

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(continua)

"Podia ser o fim de qualquer amor" - 2ª Parte


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E não fica nada daquele dia branco.
Um dia olhou para as mãos de quem amou e já não se viu dentro delas.

Agora lembra-se do dia em que quis ser igual a ela. E do que nunca lhe disse."Se te visses uma única vez, se te sentasses á tua frente e te ouvisses a falar, se te pudesses segurar, percebias porque é que as pessoas se apaixonam por ti". Ás vezes a verdade é a última coisa que se pode dizer.


Ele não disse, ela não ouviu e nada ficou. Nem sequer para lembrar. Quando a paixão é tão grande nenhuma memória presta. Fica só muito tempo.

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(continua)

"Podia ser o fim de qualquer amor" - 1ª parte

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" Podia ser o fim de qualquer amor. É sempre nos mesmos sítios. Diz que sim.Na alma bate a mesma chuva pesada. O tempo levanta-se contra quem o tem.O riso não separa os dias uns dos outros. Está o coração entreaberto.
A vida nota-se em demasia.
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A vida nota-se em demasia numa sala escura. O amor chama muito. As pessoas deixam-se prender pela luz. Fazem fogo fácil. Param.
E não fica nada".
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(continua)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cala os Olhos Vagabundo - José Gomes Ferreira


"Cala os olhos, vagabundo.

Não me digas
que há estradas no mundo
sem urtigas.

Não me contes
que nascem astros nos vales
para além dos horizontes.

Não me fales de haver poentes
com as cores ardentes
das penas de um galo.

Não me tentes,vagabundo.

Não quero ver o mundo.

Prefiro imaginá-lo."

Palavras Interditas - Eugénio de Andrade



As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.