terça-feira, 31 de agosto de 2010

No mar que cada um de nós comporta - Ana Hatherly
















No mar que cada um de nós comporta,
A onda é o pequeno gesto
Dum grande movimento.
Quando se eleva,
À sua volta cresce a profundeza
Quando transborda,
Enquanto nos inunda se consome.

Mas entre o fluxo e o refluxo
Do mar que se consente,
A praia, indiferente,
Dorme.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os Olhos do Poeta - Manuel da Fonseca













O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo,

e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem.

Em seu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas,

e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria,

com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento.

Em seu olhar estão as neves eternas dos Himalaias vencidos

e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias

e o movimento ululante das cidades marítimas onde se falam todas as línguas da terra

e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas

e a luz do deserto incandescente e trémula, e os gestos dos pólos, brancos, brancos,

e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram

e os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando com contos-de-fada à hora da infância

e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas

e correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade:

- todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta.

Do seu olhar, que é um farol erguido no alto de um promontório,

sai uma estrela voando nas trevas

tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes.

E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta

que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo.

domingo, 29 de agosto de 2010

A janela que abre para o mar... - Al Berto
















Quando aqui não estás

o que nos rodeou põe-se a morrer



a janela que abre para o mar

continua fechada só nos sonhos

me ergo

abro-a

deixo a frescura e a força da manhã

escorrerem pelos dedos prisioneiros

da tristeza

acordo

para a cegante claridade das ondas



um rosto desenvolve-se nítido

além

rasando o sal da imensa ausência

uma voz



quero morrer

com uma overdose de beleza



e num sussurro o corpo apaziguado

perscruta esse coração

esse

solitário caçador.



in Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea,

Amar - Florbela Espanca
















Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!



Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!



Há uma primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!



E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

Lágrima - Carlos Gonçalves



Cheia de penas me deito

E com mais penas me levanto

Já me ficou no meu peito

Jeito de te querer tanto



Tenho por meu desespero

Dentro de mim o castigo

Eu digo que não te quero

E de noite sonho contigo



Se considero que um dia hei-de morrer

No desespero que tenho de te não ver

Estendo o meu xaile no chão

E deixo-me adormecer



Se eu soubesse que morrendo

Tu me havias de chorar

Por uma lágrima tua

Que alegria me deixaria matar

sábado, 28 de agosto de 2010

O testamento dos namorados - Natália Correia















Escolhamos as coisas mais inúteis

o verde água o rumor das frutas

e partamos como quem sai

ao domingo naturalmente.



Deixemos entretanto o sinal

de ter existido carnalmente:

da tua força um castiçal

da minha fragilidade um pente.



Esse hieróglifo essa lousa

deixemos para que uma criança

a encontre como quem ousa

um novo passo de dança.



in "O Vinho e a Lira"

«Vae ser pedida. Casa qualquer dia» – Augusto Gil















Tive noticias hoje a teu respeito:

«Vae ser pedida. Casa qualquer dia».

E o coração tranquillo no meu peito

–Continuou a bater como batia…



Surpreso duma tal serenidade,

Todo eu, intimamente, me sondava:

Pois nem ciume? Nem sequer saudade?!

–E nem ciumes, nem saudade achava…



Saudades, não; que o teu amor antigo

Guardam-no as cinzas (neste coração)

Como em Pompeia aquelles grãos de trigo

Que após centenas d’annos deram pão…



Saudades! Mas de quê?! Pois não sei eu

A lei antiga como o proprio mundo

De que o prazer mal chega, já morreu,

E só a dôr nas almas cava fundo?



Causei-te longas horas d’amargura,

Não consegues voltar a ser feliz;

A chaga que te abri não terá cura,

E se curar–lá fica a cicatriz.



Á luz dum juramento que trahiste

Tu has de vêr-me toda a vida pois.

Ergueste-o a Deus num dia amargo e triste

E Deus casou-nos esse dia, aos dois…



Ciumes tambem não, por te venderes.

Desgraçadinha! Antes te houvesses dado;

Não descerias tanto entre as mulheres,

Seria mais humano o teu peccado.



Porém, embora a tua falta aponte,

P’ra mim és a que foste (ou que eu suppuz);

O sol desapparece no horisonte

–E a gente vê-o ainda a dar-nos luz…



Póde a desgraça erguer em frente a mim

Altas montanhas d’elevados cumes.

O sol do amôr doiral-as-ha, e assim,

Vendo-o tão alto, não terei ciumes.



Ciumes! Elle é que hade tel-os, quando,

Em claras noites de luar silente,

Ouvir vibrar alguma voz, cantando

Os versos que te fiz devotamente.



Versos para te ungirem os ouvidos

E os labios d’anemica e de santa,

Tão pobres, tão ingenuos, tão sentidos,

Que o povo humilde os acolheu e os canta.



Então, se te olhar bem, logo adivinha…

Logo sombriamente se convence

De que a tua alma se fundiu na minha

–E apenas o teu corpo lhe pertence.



in" Luar de Janeiro"

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Poema das Coisas Belas – António Gedeão
















As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

Últimas amarras - Orlando de Carvalho




O nosso amor não mora nestes rio
disseste, mas das últimas amarras
tinham partido todos os navios.

Altos Castelos - Orlando de Carvalho
















Altos castelos
verdes e amarelos
é preciso sabê-los

Castelos altos
amarelos glaucos
e preciso tomá-los

tomá-los cortá-los
pela gema de âmbar
pelo junco dos fossos

e outra vez plantá-los
com pedra de gente
e fazê-los nossos

Altos castelos        
Verdes e amarelos

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tricot - Maria de Cristina Araújo


















Desmanchei mais um sonho
porque quis.
A minha mão encheu-se
de alma enrodilhada.

Cansam-me os modelos
logo que os começo.
As cores, também,
não ligam com o feitio!...
(Veio tarde o alvorecer naquele dia.
Escureceu na altura em que eu quis o sol.)

Ah, sonhos grandes!
- Sonhos que me servem!

Mas para esses
não me chega o fio!...

Inquietação - José Mário Branco



A contas com o bem que tu me fazes


A contas com o mal por que passei

Com tantas guerras que travei

Já não sei fazer as pazes



São flores aos milhões entre ruínas

Meu peito feito campo de batalha

Cada alvorada que me ensinas

Oiro em pó que o vento espalha



Cá dentro inquietação, inquietação

É só inquietação, inquietação

Porquê, não sei

Porquê, não sei

Porquê, não sei ainda



Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer

Qualquer coisa que eu devia perceber

Porquê, não sei

Porquê, não sei

Porquê, não sei ainda



Ensinas-me fazer tantas perguntas

Na volta das respostas que eu trazia

Quantas promessas eu faria

Se as cumprisse todas juntas



Não largues esta mão no torvelinho

Pois falta sempre pouco para chegar

Eu não meti o barco ao mar

Pra ficar pelo caminho



Cá dentro inqueitação, inquietação

É só inquietação, inquietação

Porquê, não sei

Porquê, não sei

Porquê, não sei ainda



Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer

Qualquer coisa que eu devia perceber

Porquê, não sei

Porquê, não sei

Porquê, não sei ainda



Cá dentro inqueitação, inquietação

É só inquietação, inquietação

Porquê, não sei

Mas sei

É que não sei ainda



Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer

Qualquer coisa que eu devia resolver

Porquê, não sei

Mas sei

Que essa coisa é que é linda.

Sonhos - Zulmira Bento

















Vem buscar-me os sonhos
Enquanto a noite não acordar.
Lembra-te
Que os sonhos são só sonhos
E envolve-os cuidadosamente
Em celofane e papel de seda....
Mas à noitinha traz-mos de volta
E deita-te comigo
Na Praia dos Corpos Visitados.

in, "Pacto", Poesia Minerva

Um dia eu te direi - Maria Alberta Menéres















Um dia eu te direi  o nome do silêncio
o pronome da cólera
Esta chuva destrói a cor dos nossos olhos

Eu te direi a luz do sussurro do vento
aberto na boca

É preciso ensinar as palavras
com paciência
guiá-las docemente     são crianças
grávidas e serenas.

Um dia eu te direi a face do papel
Onde erguerei a casa
O jardim fecundado
pela  gota do sangue

Eu te direi como a ternura quebra

o fósforo se esvai.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Poema das Coisas - António Gedeão















Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.

O estar ali, o ser de certo modo,

o saber-se como é, onde é que está e como,

o aguardar sem pressa, e atender-nos

da forma necessária.



Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,

esperam as coisas que o desespero as busque.



Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.

As cortinas de rede, exactamente aquelas,

a cadeira onde a memória está sentada,

a mesa, o copo, a chávena, o relógio,

o móvel onde alguém permanece encostado

sem volume e sem tempo,

nós próprios, quando os olhos indignados

nas pálpebras se encobrem.



Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,

pesa connosco, forma um corpo inteiro



Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,

conhece a pedra, entende-lhe o feitio,

sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.

Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.



Se fosse o amor dos homens

quando se abrisse a mão já lá não estava.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Noite Vagabunda de Luar - António Arnaut



A minha angústia é asa quebrada

da noite vagabunda de luar

que vem mansamente pela madrugada

bater-me à porta para me acordar

Vesperal - António Sardinha

"Les Ménines d'après Velázquez". Pablo Picasso, 1957. Museu Picasso Barcelona.



















Se eu te pintasse, posta na tardinha,

pintava-te num fundo cor de olaia,

na mão suspensa, nessa mão que é minha,

o lenço fino acompanhando a saia!

 Vejo-te assim, ó asa de andorinha,

em ar de infanta que perdeu a aia,

envolta numa luz que te acarinha,

na luz que desfalece e que desmaia!



Com teu encanto os dias me adamasques,

linda menina ingénua de Velásquez

a flutuar num mar de seda e renda.

Deixa cair dos lábios de medronho

a perfumada voz do nosso sonho,

mas tão baixinho que só eu entenda.

Diálogo de Flores - Zulmira Bento



"Só flores e olhares
Sem gestos desnecessários
No momento eterno
Das palavras proibidas!"

É a carícia da mão - Salette Tavares












É a carícia da mão na minha face
e o meu olhar repousado
o sorriso que passa
rápido
de mim a ti.

É toda uma ternura que nos chama
é a desolada solidão de quem se ama
e conhece o espaço que fica
de aqui ali

É uma inclinção suspensa
por toda a pele que nos limita o corpo
gemido, doçura, pena
como o poema a chamar por mim.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Embala-me - António Sousa Freitas



















Embala-me, embala-me,
E canta-me cantigas,
Cantigas antigas de embalar meninos.
- Que a tua voz seja um cântico
Onde a minha alma descanse
E alcance os seus destinos.


Que tenha sonhos brancos e suaves,
Aves roçando leve o meu sonhar
Embalando breve, junto a ti, sonhando.
- Ó noite velha, sem estrelas e sem lua,
Nua e tua sinto bem minha alma
Na calma de um lugar agónico e brando.


E canta, canta, meu amor, encanta
Com essa tua voz sonhada e benta,
E lenta, lenta, meu amor, tão lenta.
- Deixa correr a vida! Que importa a vida,
Se no ponto da partida
No teu canto o meu anseio se atormenta!?

A exaltação da pele - Natália Correia
















Hoje quero com a violência interdita
Sem lírios e sem lagos
e sem o gesto vago
desprendido da mão que um sonho agita.
Existe a Seiva. Existe o instinto. E existo eu
suspensa de mundos cintilantes pelas veias
meatde fêmea metade mar como as sereias.

  

Melodia - José Agostinho Baptista















Este é o orvalho dos teus olhos.

Esta é a rosa dos teus vales.

O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.

Tu estás no meio,

entre a dor e o espanto da treva.

Arrancas-te ao mundo e és a perfumada

distância do mundo.

Chego sem saber, à beira dos séculos.

Despenho-me nos teus lagos quando para ti

canta o cisne mais triste.

O pólen esvoaça no meu peito, junto às tuas

nuvens.


Esta é a canção do teu amor.

Esta é a voz onde vive a tua canção.

As tuas lágrimas passam pela minha terra

a caminho do mar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Não escrevas - António Arnaut



















Não escrevas. As palavras
Já não sublevam a lembrança.
Se queres acordar essa louca
aventura de criança,
manda-me apenas o espelho de bolso
onde desenhavas
a rubra flor da tua boca,
e ambos cabíamos 
como num retrato miniaturial
do paraíso.
Manda-mo sem demora
esse espelho oval:
quero ver se o teu sorriso
ainda marca a mesma hora.

in "Outros Sinais", poema 37 

Determinação



À gaivota abre-se a porta
Ao silêncio empresta-se a voz
À palavra molda-se o gesto
Ao poeta dá-se uma estrela!

Dias de Sol - Zulmira Bento



Todos os dias serão Domingo


Com Bancos de Jardim ao Sol ...


in "Pacto", Poesia Minerva


 
 

sábado, 21 de agosto de 2010

Há Palavras que Nos Beijam - Alexandre O'Neill,















Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca.

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto;

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas inesperadas

Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído

No papel abandonado)


Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.



 in 'No Reino da Dinamarca'

Portugal - Alexandre O’Neill














Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!
*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para ó meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós…

Metereologia - Maria Cristina de Araújo




Vai, amor!
Deixa-me sózinha!
Não posso dar à tempestade de ontem
a vitória de te fazer sofrer;
nem quero que o que há de riso prolongado
neste dia de Verão, ao entardecer,
acabe por repartir contigo a minha dor.

Por agora, prefiro andar sózinha pelos sonhos fora.
Quem sabe se, algum dia,
vais aparecer, de novo, pela primeira vez?
Se tivermos depois força para acertar as almas,
o tempo não poderá troçar de nós!
Hei-de mandar, então,

pôr sol e chuva onde achar melhor!
Raios e gotas d'água a horas certas,
névoa para um passeio às escondidas
numa estrada recta de luar.
(curvai-vos, pinheiros, vamos a passar!
curvai as vossas mágoas verticais
que nunca hão-de chegar onde quereis!...)

A Hora do Tigre - Rui Namorado

Poema homenagem de Rui Namorado ao Prof. Dr. Orlando de Carvalho Professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, (N. 1926 e F.2000.). Professor de reconhecido mérito e prestígio, durante a década de 80 leccionou as cadeiras mais importantes do curso de Direito da Universidade de Coimbra, marcando várias gerações de juristas. O seu interesse pela poesia levou-o a publicar os seus poemas sob o título Sobre a Noite e a Vida .



















Foi em vão que esperaste, loucamente,

essa hora do tigre desregrada

que te rasgasse o fundo de ti próprio.



Foi em vão que, sofrendo, imaginaste

essa hora do tigre que inventasse

o gesto de uma audácia ainda pura.



Foi em vão que, sonhando, construíste

uma hora do tigre que salvasse

de misérias, insídias, de traições,

das emboscadas torpes e fatais.



Soltaste, ainda em vão, o voo das águias

que fosse além de todas as montanhas

e nas asas do vento abandonasse

a secreta flor do teu destino.



Estavas preso entre nós, desamparado,

numa angústia sem margens que perdia

suas próprias raízes.



Só o extremo de tudo te bastava

na mais larga ambição de liberdade,

harpa de um sonho, som de violino,

ou asa do rigor de uma palavra.



Abriste cada gesto, em tempestade,

aos mistérios da luz, despovoados.

O mundo num poema e em cada verso

o secreto sabor da madrugada.



Foi na hora do tigre que ensinaste

a épica altivez de ser vencido

e num último voo ainda ousaste

o gesto de ir mais longe.

Poema V, A Frederico García Lorca _ Hilda Hilst


















Companheiro, morto desassombrado, rosácea ensolarada

quem senão eu, te cantará primeiro. Quem senão eu

pontilhada de chagas, eu que tanto te amei, eu

que bebi na tua boca a fúria de umas águas

eu, que mastiguei tuas conquistas e que depois chorei

porque dizias: “amor de mis entrañas, viva muerte”.

Ah! Se soubesses como ficou difícil a Poesia.

Triste garganta o nosso tempo, TRISTE TRISTE.

E mais um tempo, nem será lícito ao poeta ter memória

e cantar de repente: “os arados van e vên

dende a Santiago a Belén”.



Os cardos, companheiro, a aspereza, o luto

a tua morte outra vez, a nossa morte, assim o mundo:

deglutindo a palavra cada vez e cada vez mais fundo.

Que dor de te saber tão morto. Alguns dirão:

Mas se está vivo, não vês? Está vivo! Se todos o celebram

Se tu cantas! ESTÁS MORTO. Sabes por quê?


“El passado se pone

su coraza de hierro

y tapa sus oídos

con algodón del viento.

Nunca podrá arrancársele

un secreto.”


E o futuro é de sangue, de aço, de vaidade. E vermelhos

azuis, braços e amarelos hão de gritar: morte aos poetas!

Morte a todos aqueles de lúcidas artérias, tatuados

de infância, de plexo aberto, exposto aos lobos. Irmão.

Companheiro. Que dor de te saber tão morto.




In,  "Poemas aos homens de nosso tempo”.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Atreve-te a Julgar - Joaquim Pessoa























Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te, faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.

Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.

Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um centavo pagarás por ele.

Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.

(...)


in Vou-me embora de mim, Ed. Hugin, 2000, págs. 21-23

Menina...brisa do alto da serra. - Ary dos Santos (1971)



Menina de olhar sereno


raiando pela manhã

no seio duro e pequeno

num coletinho de lã.



Menina cheirando a feno

casado com hortelã.

Menina que no caminho

vais pisando formusura

levas nos olhos um ninho

todo em penas de ternura.

Menina de andar de linho

com um ribeiro à cintura.



Menina da saia aos folhos

quem te vê fica lavado

água da sede dos olhos

pão que não foi amassado.



Menina do riso aos molhos

minha seiva de pinheiro

menina da saia aos folhos

alfazema sem canteiro.



Menina de corpo inteiro

com tranças de madrugada

que se levanta primeiro

do que a terra alvoraçada.



Menina de fato novo

ave-maria da terra

rosa brava rosa povo

brisa do alto da serra.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vai-te, Poesia! Não Quero Cantar. Quero Gritar!



Vai-te, Poesia!

Deixa-me ver a vida

exacta e intolerável

neste planeta feito de carne humana a chorar

onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos

com bandeiras de lume nos olhos,

para fabricar sonhos

carregados de dinamite de lágrimas.


Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.

Quero gritar!

Que acontece a um música quando deixa de soar.. .Juan Ramón Jiménez


Que acontece a uma música,
quando deixa de soar;
e a uma brisa que deixa
de voar,
e a uma luz que se apaga?

Morte, diz: que és tu, senão silêncio,
calma e sombra?

Hoje roubei todas as rosas dos jardins


Hoje roubei todas as rosas dos jardins

e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Canta, Canta ... Joaquim Pessoa

















Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada
amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu
corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para
cantar.

E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho,
pedaços de prazer.

A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!

Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.

Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor.

Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.

Canta. Enquanto esperas, canta.

Canta quando não quiseres esperar.

Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.

Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.

E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.

(...)

in Vou-me embora de mim, Ed. Hugin, 2000, págs. 21-23

O Sorriso - Eugénio de Andrade



Creio que foi o sorriso,
O sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Vou-me Embora de Mim - Joaquim Pessoa















"Nasci no campo, onde se cruzavam os cheiros de flor
Do limoeiro
Com o de hortelã e o do estrume. Brinquei
Por entre o milho, queimei em fogueiras o rosmaninho,
Persegui lagartixas, cobras e ouriços, capturei e destruí
Escaravelhos,
Defendi as carochas, roubei ninhos com ovos e pássaros
Implumes,
Colhi cachos ainda verdes, desesperei pelo amadurecimento
Dos figos, das romãs e dos alperces,
Tingi-me com amoras, fui irmão das abelhas, discuti com o
Vento
E mais do que a erva e as árvores aproveitei-me da chuva.

Agora moro num quarto andar e tenho um automóvel tão
Sólido como a minha infelicidade,
Viajo às vezes entre as árvores, e colinas com árvores e
Planícies com árvores
Mas está tudo longe, fora do alcance, fugindo de mim
Rapidamente, em sentido contrário,
Com a mesma rapidez com que a infância me fugiu.

Sou hoje um cidadão da pedra e do betão. Os meus pés não
Pisam já o alecrim,
Os meus olhos não se habituam já ao escuro da noite para
Observar o voo dos morcegos,
Guardo uma ideia vaga de como era um arado, tenho
Saudades
De ver o meu pai descalço a regar morangos e abóboras.

O piar dos tentilhões e dos picanços foi substituído pelo
Ruído do tráfego,
O desajeitado voar das borboletas parece-me às vezes vê-lo
Nos papéis
Que o vento levanta do chão, levando-os daqui para acolá,
E a minha vida é vivida de forma a comemorar o dia disto
E o dia daquilo
Sem comemorar nunca o dia em que começa a primavera.

Bom dia!, diz-me o cliente. Bom dia!, diz-me o fornecedor.
Bom dia!, digo eu, sem dizer nada".


in "Vou-me Embora de Mim", Ed. Hugin, 2000, págs. 48-49

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dobrada à moda do Porto



















Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,

Serviram-me o amor como dobrada fria.

Disse delicadamente ao missionário da cozinha

Que a preferia quente,

Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.

Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.

Não comí, não pedi outra coisa, paguei a conta,

E vim passear para toda a rua.


Quem sabe o que isto quer dizer?Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,

Particular ou público, ou do vizinho.

Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.

E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,


Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram

Dobrada à moda do Porto fria?

Não é prato que se possa comer frio,

Mas trouxeram-mo frio.

Não me queixei, mas estava frio,

Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Universo Reconstrui-se-me ... (Álvaro de Campos)


















Visto isto, levanto-me da cadeira.


Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança,

e o Dono da Tabacaria sorriu.



Álvaro de Campos, 15-1-1928

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um Poema - Miguel Torga















" Não tenhas medo, ouve:

...É um poema

Um misto de oração e de feitiço...

Sem qualquer compromisso,

Ouve-o atentamente,

De coração lavado.

Poderás decorá-lo

E rezá-lo

Ao deitar

Ao levantar,

Ou nas restantes horas de tristeza.

Na segura certeza

De que mal não te faz.

E pode acontecer que te dê paz..."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escuto - Sophia de Mello Breyner



















Escuto mas não sei

Se o que oiço é silêncio

Ou deus


Escuto sem saber se estou ouvindo

O ressoar das planícies do vazio

Ou a consciência atenta

Que nos confins do universo

Me decifra e fita



Apenas sei que caminho como quem

É olhado amado e conhecido

E por isso em cada gesto ponho

Solenidade e risco

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Palavras - Mário Cesariny (extracto de Ao Longo da Muralha)



















E há palavras e nocturnas palavras gemidos

Palavras que nos sobem ilegíveis À boca

Palavras diamantes palavras nunca escritas

Palavras impossíveis de escrever

Por não termos connosco cordas de violinos

Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar .

domingo, 8 de agosto de 2010

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido, Pablo Neruda















Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:

aquela que nunca amou.·

E esse é o maior dos sofrimentos:

...

não ter por quem sentir saudades,

passar pela vida e não viver.·

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ausência - Vinicius Moraes


















Eu deixarei que morra

em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Para Isso Fomos Feitos ... Vinicius de Moraes




Para isso fomos feitos:


Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.



Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:


Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte

De repente nunca mais esperaremos…

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Promenade - Outono (Jasper Johns) - Mário Avelar



Ás  vezes sento-me na
sala a ouvir [John] Coltrane
in a sentimental mood...

Procuro então o teu
olhar, o teu olhar d' águia,
suspenso algures na

Azáfama das vindimas
suspenso algures num
ponto além da azáfama

das vindimas...ponto sem
regresso neste lugar
Would You Know my name

if I Saw you in heaven?
Onde as veredas do céu
estão repletas de

anjos...onde, agitando
e gesticulando
serás por certo um deles?

Soul and Tears - Laurent Burch





The Soul would have no Rainbow

If the eyes had no Tears...

Blue in Green (Miles Davis) - Ana Hatherly



A nostalgia urbana
dum Miles Davis
retrata New York
escura
     húmida
           sonora

Quando ele toca
há um abafado grito:
as pugentes notas
batem no ouvido

Orfãs da noite
batem na calçada
com os seus duros sons
amargurados

É um som que não chama
mas espera
enconsta-se
ao brilho das lâmpadas eléctricas

O Tempo
é uma solidão gemida
em longos
arrastados intervalos

Mergulhos no abandono:
Why remember at all?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Das Utopias - Mário Quintana


Se as coisas são inatingíveis... ora!

não é motivo para não querê-las.

...Que tristes os caminhos, se não fora

a mágica presença das estrelas!

Tatuagem de Ti - Bruno Mateo

Dou a conhecer um poeta não publicado mas cujas palavras 
me tocam a alma de forma indelével desde há muitos anos.
Vejam mais no Blog Oficial  
Cfr. - http://adourotemateo.blogspot.com/

"Porque não escrevo?

Porque obedeço ao tempo de um caminho

de cicatrização.


De um golpe uma dor e uma chaga

de sofrimento.


Lambo e ponho o dedo. Na ferida

uma compressa. Que sangra

de dor.


A crosta é a côdea que encordoa a fenda.

A massagem é a carícia que adoça a pele

que formiga e abrasa.


Eterna cicatriz.

Tatuagem de ti".

Mateo

Nada Sabemos da Alma Senão Da Nossa - Fernando Pessoa



















"Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo".



Fernando Pessoa, 1934

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ai de quem não rasga o coração... Vinicius de Moraes



















Quem já passou

Por esta vida e não viveu

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu

Porque a vida só se dá

Pra quem se deu

Pra quem amou, pra quem chorou

Pra quem sofreu, ai


Quem nunca curtiu uma paixão

Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior

Do que a descrença

Mesmo o amor que não compensa

É melhor que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair

Pra que somar se a gente pode dividir?

Eu francamente já não quero nem saber

De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração

Esse não vai ter perdão



in "Poesia completa e prosa: "Cancioneiro""

O caminho que nos resta...o de mais nada fazer



"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.

Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afecto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços... inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer".

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sonhe e Seja o que você quiser ser... Clarice Linspector


















"Sonhe com o que você quiser.

Vá para onde você queira ir.

Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida

...e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz."


Clarice Lispector

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pôr de Sol (Palheiros de Mira) - Raúl Brandão

Palheiros de Mira, algures num fim de tarde de 2008 


"A onda vem, espraia-se, molha-nos e salpica-nos de espuma (...)


Mas há umas, esplêndidas, que vi em MIra, ao pôr do Sol,

quando o vasto areal fica todo ensaguentado.

A onda forma-se

e corre por aquela magnífica estrada que vem do sol até à Praia,

ganha primeiro reflexos doirados na crista e depois,

quando se estira pelo areal molhado,

fica cor de vinho nos lagares."

"Os Pescadores"

domingo, 1 de agosto de 2010

Haiku - Ichu




"Uma Ostra é a pequena estalagem
de um bicho que vive nas algas"