domingo, 27 de fevereiro de 2011

A envolvência do teu Abraço _ Fátima Ramos

A meu PAI

Nesta distância que o tempo e a morte impuseram,

nesta tormenta em que navego,

nesta solidão em que as saudades

da tua voz, do teu sorriso trocista mas cheio de carinho,

das tuas palavras cheias do mais refinado humor

onde se escondia um profundo e imenso amor,

Sinto a envolvência do teu Abraço meu Pai,

Como se estivesses aqui comigo,

sussurrando-me o caminho a seguir,

os passos a tomar

e dando-me a coragem e força necessária

para aguentar firme os ventos e as chuvas,

o frio deste inverno que me gela as mãos,

o coração e a alma,

Lembrando-me que há sempre um novo sonho

depois daquele que se quebra e nos impele a Viver,

mesmo quando só nos apetece esconder do mundo

no conforto da escuridão.

Que há sempre uma alegre Primavera

após o mais frio Inverno

e que mesmo enquanto este dura,

o raio de sol que espreita por entre as nuvens

e derrete a mais sólida neve que caiu no chão...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Asa de Borboleta _ Cecília Meireles

No mistério do sem-fim

equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,

e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Antes de um lugar há o seu nome_Maria Rosário Pedreira

Antes de um lugar há o seu nome. E ainda

a viagem até ele, que é um outro lugar

mais descontínuo e inominável.


Lembro-me

do quadriculado verde das colinas,

do sol entretido pelos telhados ao longe,

dos rebanhos empurrados nos carreiros,

de um cão pequeno que se atreveu à estrada.


Íamos ou vínhamos?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Mãe _ João Negreiros


A mãe

Quando crescer quero ser a mãe

só p’ra ser a minha

e me dar carinho sem ter que mo pedir

quero morrer p’ra ser a mãe de alguém

mas com as mãos a voz e o cheiro da minha



mãe

és a minha mãe

antes não fosses

antes fosses a mãe de todos

p’ra que todos fossem felizes

se fosses a mãe do mundo o mundo era melhor

e eu não existia

mas acredita que não me importava

porque haveria de viver no som dos teus beijos

no fresco da tua mão contra a testa febril

no olhar que encontra o brinquedo

na luz que me apaga o medo



haveria de viver no teu coração como um filho que não nasceu

e que morre todos os dias para provar que sempre te amou



in "o cheiro da sombra das flores"

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Defesa do Poeta _ Natália Correia

Senhores jurados sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito

e ando com uma camisa de vento

ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis

de armazenado espanto e por fim

com a paciência dos versos

espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos

(curtido couro de cicatrizes)

uma avaria cantante

na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade

o vosso enfarte serei

não há cidade sem o parque

do sono que vos roubei

Senhores professores que puseste

a prémio minha rara edição

de raptar-me em crianças que salvo

do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho

de em pó volverdes sois os reis

sou um poeta jogo-me aos dados

ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes

puro exercício de ninguém

minha cobardia é esperar-vos

umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete

que medo vos pôs na ordem ?

que pavor fechou o leque

da vossa diferença enquanto homem ?

Senhores juízes que não molhais

a pena na tinta da natureza

não apedrejeis meu pássaro

sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta

de um verso onde o possa escrever

ó subalimentados do sonho !

a poesia é para comer.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Hoje sorriem-me a terra e os céus _Gustavo Adolfo Bécquer



Hoje sorriem-me a terra e os céus;

sinto no fundo da minha alma o sol;

eu hoje vi-a..., vi-a e ela olhou-me...

Creio hoje em Deus!

Ama-me...Incondicionalmente _ Dr.Jeckyl.


"Ama-me quando eu menos o merecer,
porque será nessa altura que mais necessitarei"

- Dr.Jeckyl.











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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O cair das Máscaras__Menina do Alto da Serra


Caiu o pano, cairam as máscaras...
repetes algures o enredo desta peça
que escreveste um dia, encenaste, representas e
que tens em permanente exibição,
mantendo o mesmo elenco bolorento,
com excepção da primeira figura
feminina.

Porque precisas dela para sobreviver,
dos afectos, das atenções
que alimentas sem intenção
de guardar e velar,
Como bom Corsário
que és não sabes construír
apenas pilhar e roubar.

Vais, assim, assumindo em sucessivos e novos palcos,
o papel que se colou
ao teu rosto e alma,
entrando pela calada
da noite nos portos de abrigo
que encontras nesses mares
em que navegas,
conquistando com o teu eterno queixume e
lamento, música e falsas doçuras,
os corações das recatadas donzelas
que te devotam palavras de ânimo e
puro afecto e, envoltas numa cega ilusão,
cheias de pena pelas tuas (falsas) penas,
juram resgatar-te da escuridão
e conduzir-te à luz que finges querer alcançar...

Tudo levas que te alimente o ego, nada dás em troca além
de choro e crueldade
e partes, não como vieste,
mas deixando bem presente o teu lastro de destruição,
nas casas incendiadas, nas donzelas violentadas,
no choro desenfreado,
nas louças partidas e livros rasgados pelo chão,
fruto da tua acção malvada.