terça-feira, 23 de novembro de 2010
Boneca de Pano - Menina do Alto da Serra
Com uma alegria contagiante
Mostras-me a tua boneca de trapos,
quase do teu tamanho,
que embalas ternamente nos teus braços,
como a mais carinhosa das mães.
Ofereces-me o teu riso cristalino e inocente
de criança.
Pegas-me pela mão e arrastas-me pelas divisões
deste edificio cinzento, uma a uma...
Ensinas-me o nome dos teus amigos, das senhoras que te ensinam
e das que cuidam de ti dia e noite.
Levas-me ao teu quarto que partilhas com mais cinco amigos
e apontas para a tua cama de ferro.
Contas-me contente e triste ao mesmo tempo que o urso de pelúcia que tens em cima da
cama te foi dado pela a tua mamã "antiga" quando te deixou aqui.
E então, subitamente fazes silêncio, E a frio, olhando-me com os teus olhos negros
inquietantes, gelas-me a alma quando me perguntas tão simplesmente: "a minha mamã
nova, quando vem ? Sempre vou ter pelo Natal uma nova mamã e papá?"......
............E eu tenho de te dizer que não, apesar de ser quase Natal o Sr. Juiz ainda não
conseguiu aranjar-te os papás novos que tanto sonhas e que os adultos tanto te
prometem.
....................................
Eu quero dizer-te quem sim, quando sei que a resposta é não. Por ora é não.
E regresso à minha secretária inquieta, cheia de relatórios das senhoras graves da
segurança social,
esperando que à próxima visita que me cumpra fazer a essa casa grande onde vives
te possa dizer que o pai natal ouviu o teu e o meu pedido e abriu as portas da burocracia
e que tens uns novos pais para aprender a amar, a voltar a confiar na vida e que vais ser
muito, muito (tão) feliz.