| O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros. As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa, tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho. Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro, antes de se despedirem. As vezes, repartiam sofregamente a infância, postais antigos, o silêncio - nada aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha, à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém. in "A Casa e o Cheiro dos Livros" |
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros_Mª do Rosário Pedreira
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Gosto-te __Joaquim Pessoa
Gosto-te. E desta certeza se abre a manhã como uma
imensa rosa de desejo indestrutível. O futuro é o pró-
ximo minuto, o que está para além da infatigável religi-
ão dos meus versos, em cuja luz me acendo, feliz e nu.
O meu sorriso conhece a bondade dos animais, o po-
der frágil das corolas, e repete o nome feminino dos ar-
canjos de peitos redondos, perfumados pelas giestas
das veredas do céu.
Gosto-te. Amarrado pelos meus braços de beduíno do
sol, pobre senhor dos desertos, profeta da distância
que há dentro das palavras, onde se alongam sombras
e o sofrimento se estende até à orla da mais inquieta
serenidade.
Gosto-te. E tenho sido feliz por nunca ter seguido os
trilhos que me quiseram destinar. Aqui e ali me pergun-
to, despudoradamente. E sei que não sei mentir. É por
isso, que recolho na face a luz imprescindível ao orgu-
lho dos peixes e dos frutos.
Gosto-te. "Na-na-na, na-ô... Na-na-na, na-ô... na nô",
canta o espírito do caminho, canta para mim e canta pa-
ra ti, eleva o coração das árvores grandes, coração de
coragem e de sangue fresco e verde, apaixonado e do-
ce, de tanto contemplar o perfil das tardes.
Gosto-te. Mas "longe" é agora uma palavra húmida, grá-
vida de água, onde os sinos da erva tocam para convocar
o imenso amor das sílabas. E, ao procurar-te, tremo ape-
nas de ternura, para que nem mesmo a inteligente brisa
da tarde possa dar pela minha presença.
Mais discreto que isto é impossível.
imensa rosa de desejo indestrutível. O futuro é o pró-
ximo minuto, o que está para além da infatigável religi-
ão dos meus versos, em cuja luz me acendo, feliz e nu.
O meu sorriso conhece a bondade dos animais, o po-
der frágil das corolas, e repete o nome feminino dos ar-
canjos de peitos redondos, perfumados pelas giestas
das veredas do céu.
Gosto-te. Amarrado pelos meus braços de beduíno do
sol, pobre senhor dos desertos, profeta da distância
que há dentro das palavras, onde se alongam sombras
e o sofrimento se estende até à orla da mais inquieta
serenidade.
Gosto-te. E tenho sido feliz por nunca ter seguido os
trilhos que me quiseram destinar. Aqui e ali me pergun-
to, despudoradamente. E sei que não sei mentir. É por
isso, que recolho na face a luz imprescindível ao orgu-
lho dos peixes e dos frutos.
Gosto-te. "Na-na-na, na-ô... Na-na-na, na-ô... na nô",
canta o espírito do caminho, canta para mim e canta pa-
ra ti, eleva o coração das árvores grandes, coração de
coragem e de sangue fresco e verde, apaixonado e do-
ce, de tanto contemplar o perfil das tardes.
Gosto-te. Mas "longe" é agora uma palavra húmida, grá-
vida de água, onde os sinos da erva tocam para convocar
o imenso amor das sílabas. E, ao procurar-te, tremo ape-
nas de ternura, para que nem mesmo a inteligente brisa
da tarde possa dar pela minha presença.
Mais discreto que isto é impossível.
sábado, 7 de maio de 2011
NÃO VOLTEI A ESSE CORPO___Mª do Rosário Pedreira
Não voltei a esse corpo; e não sei
se aqueles que o vestiam antes e depois
de mim souberam nele o verdadeiro calor
...e lhe conheceram os perigos, os labirintos,
as pequenas feridas escondidas. Não voltarei
provavelmente a sentir a respiração
palpitante desse corpo, desse lugar onde as ondas
rebentavam sempre crespas junto do peito, do meu peito
também, às vezes.
Uma noite outro corpo virá lembrar essa maresia,
o cheiro do alecrim bruscamente arrancado à falésia.
E eu ficarei de vigília para ter a certeza de quem me
recolheu,
porque os cheiros tornam os lugares parecidos, confundíveis.
Quando a manhã me deixar de novo sozinha no meu quarto
trocarei os lençóis da cama por outros, mais limpos.
sábado, 16 de abril de 2011
Mendigo de Amor __ José Dimas
Já fui mendigo de Amor,
Em tempos que já lá vão,
Eu já lhe conheço a dor,
Não vou mendigar mais não,
Já não peço ao meu Amor,
Mimos carinhos e beijos,
Conhecemo-nos de cor,
Ela sabe os meus desejos,
E Amar, presentemente,
Nesta ânsia, todos os dias,
Do Amar perdidamente,
Com todas as euforias,
É um sentimento presente,
Um despertar… de alegrias…
(Publicado com a autorização do autor. A transcrição deve mencionar o autor (José Dimas) e a fonte de publicação)
Em tempos que já lá vão,
Eu já lhe conheço a dor,
Não vou mendigar mais não,
Já não peço ao meu Amor,
Mimos carinhos e beijos,
Conhecemo-nos de cor,
Ela sabe os meus desejos,
E Amar, presentemente,
Nesta ânsia, todos os dias,
Do Amar perdidamente,
Com todas as euforias,
É um sentimento presente,
Um despertar… de alegrias…
(Publicado com a autorização do autor. A transcrição deve mencionar o autor (José Dimas) e a fonte de publicação)
domingo, 27 de fevereiro de 2011
A envolvência do teu Abraço _ Fátima Ramos
A meu PAI
Nesta distância que o tempo e a morte impuseram,nesta tormenta em que navego,
nesta solidão em que as saudades
da tua voz, do teu sorriso trocista mas cheio de carinho,
das tuas palavras cheias do mais refinado humor
onde se escondia um profundo e imenso amor,
Sinto a envolvência do teu Abraço meu Pai,
Como se estivesses aqui comigo,
sussurrando-me o caminho a seguir,
os passos a tomar
e dando-me a coragem e força necessária
para aguentar firme os ventos e as chuvas,
o frio deste inverno que me gela as mãos,
o coração e a alma,
Lembrando-me que há sempre um novo sonho
depois daquele que se quebra e nos impele a Viver,
mesmo quando só nos apetece esconder do mundo
no conforto da escuridão.
Que há sempre uma alegre Primavera
após o mais frio Inverno
e que mesmo enquanto este dura,
o raio de sol que espreita por entre as nuvens
e derrete a mais sólida neve que caiu no chão...
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Asa de Borboleta _ Cecília Meireles
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Antes de um lugar há o seu nome_Maria Rosário Pedreira
Antes de um lugar há o seu nome. E ainda
a viagem até ele, que é um outro lugar
mais descontínuo e inominável.
Lembro-me
do quadriculado verde das colinas,
do sol entretido pelos telhados ao longe,
dos rebanhos empurrados nos carreiros,
de um cão pequeno que se atreveu à estrada.
Íamos ou vínhamos?
a viagem até ele, que é um outro lugar
mais descontínuo e inominável.
Lembro-me
do quadriculado verde das colinas,
do sol entretido pelos telhados ao longe,
dos rebanhos empurrados nos carreiros,
de um cão pequeno que se atreveu à estrada.
Íamos ou vínhamos?
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