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domingo, 12 de setembro de 2010

S. Miguel - Visão das Ilhas por Victor Rui Dores





Ah, a Lagoa deste Fogo de te amar até mais não! Ah, lagos e crateras deste desejo, ai fumarolas de eróticas fendas...


Tu, meu amor, és a respiração da terra! És as Sete Cidades do meu paraíso perdido! És a princesa encantada escondida no fundo das águas, emergindo nas noites de luar para tomar posse do teu reino!

Ilha verde que trago na lembrança. Parques feéricos e jardins do meu sonho. Ananás da ternura. Cozido no calor da terra. Chá da tradição. E tabaco do meu vício... Portas desta cidade Ponta Delgada. Doca e Avenida de ficar em terra a ver navios... E nevoeiro histórico de romeiros em devoção. E milagres do Senhor Santo Cristo. E um povo que trabalha e tem fome de sonho e sede de infinito...

Acredita, meu amor: nos abismos do teu mar flutuam atlântidas adormecidas, guardadas por peixes monstruosos e polvos de tentáculos colossais!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Faial - Visão das Ilhas por Victor Rui Dores




Minha ilha marinheira, de cabelos desalinhados pelo vento. És apetecível como a quilha de um barco. Ou como a boca que sabe a cerveja. Ou como o gin tónico da amizade universal.

Os turistas nunca compreenderão as cinzas aquietadas do teu Vulcão, nem a catedral do silêncio da tua Caldeira. A tua verdade mais profunda está na luz marítima da tua cidade da Horta. E está na viagem mil vezes retomada. Porque em ti cabem todos os veleiros do mundo.

Esperei por ti no Café da Marina. Tardaste e entretive-me a olhar os iatistas a caminharem, com gestos lentos, por cima dos pontões. Eles, de troncos nus e reluzentes, são os lobos dos sete mares, altos e trigueiros. Elas, de cabelos loiros e olhos límpidos de mar, são sereias ondulantes... Ei-los que chegam trazidos por ventos de feição. Aqui repousam das marítimas aventuras. Aqui retemperam forças para retomar a roda do leme. Aqui festejam a alegria reencontrada dos sentidos...

... E depois partem. Porque a errância é o seu destino, a sua forma de perseguir a felicidade e o sonho. Lá vão eles. Oceanicamente livres.

Terceira - Visão das Ilhas por Victor Rui Dores

Vista sobre a Cidade de Angra - Parte delimitada como Patrimônio Mundial,
a Baía de Angra e o Monte Brasil 
.
Poderia chamar-te a ilha dos monumentos e dos cronistas, tu que és a mais histórica destas históricas ilhas... Poderia falar das tuas fortalezas, dos teus conventos, das fachadas das tuas casas renascentistas...

Poderia até chamar-te Angra do Heroísmo, cidade vaidosa do património mundial! Ou então Praia da Vitória, terra-mãe de Nemésio que ninguém leu.

Ah, sim, e poderia falar das tuas touradas e da euforia das tuas festas! Tanta coisa que eu poderia dizer do teu povo festivo e festeiro. Dos teus arraiais. Dos teus impérios. Das tuas alcatras suculentas. Da tua massa sovada de apetecer. Do teu alfenim conventual. Das tuas Danças de Entrudo. Da ternura que contigo partilhei no Jardim. Dos beijos que contigo troquei nas banquetas do Pátio da Alfândega. Das tuas quintas de S. Carlos e das tuas matas da Serreta...

Mas não. O que quero mesmo é repousar o meu olhar no teu Monte Brasil. E imaginar que vou partir por esse mar fora! E viver intensamente o bulício a bordo de paquetes iluminados. E respirar, no convés, a amplidão dos horizontes. E, depois, recolher ao camarote e adormecer. Com as vagas por travesseiro.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Visões das Ilhas - Victor Rui Dores (poeta açoriano)




Canto a vida e a maresia

em teu corpo solto e quente

minha ilha é suada e fria

meu canto é triste e dolente



trago as ilhas como quem cria

saudades que o coração sente

canto a vida e a maresia

em teu corpo solto e quente



e há sempre um cais e uma baía

e um mar antigo à nossa frente

que meu povo parte descontente

e vive em terra estranha e fria

canto a vida e a maresia.


In: Antologia Poética dos Açores,II Vol.