quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal - Carlos Drummond de Andrade

Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.

Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.

Como posso, pergunto, o ano
inteiro, viver sem Cristo ( por sinal,
na santa paz do gusano)
e agora embalar-te: isto
é Natal?

Os outros fazem? Paciência,
todos precisam de vale...

Afinal,
em sua reta inocência
diz-me o burro que me cale, natural.
E o boi me segreda: Acaso
careço de alexandrino
Ou jornal
para celebrar o caso
humano quanto divino,
hem, jogral?

Perdoa, Infante, a vaidade,
a fraqueza, o mau costume
tão geral:
fazer da Natividade
um pretexto, não um lume
celestial.