quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Desencontro - Jorge Sena




Só quem procura sabe como há dias

de imensa paz deserta; pelas ruas

a luz perpassa dividida em duas:

a luz que pousa nas paredes frias,

outra que oscila desenhando estrias

nos corpos ascendentes como luas

suspensas, vagas, deslizantes, nuas,

alheias, recortadas e sombrias.



E nada coexiste. Nenhum gesto

a um gesto corresponde; olhar nenhum

perfura a placidez, como de incesto,


de procurar em vão; em vão desponta

a solidão sem fim, sem nome algum -

- que mesmo o que se encontra não se encontra.