quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Gloria Efémera _ António Arnaut

O rosto do cartaz eleitoral
sobre um fundo de promessas, a sorrir
lembrava um maioral
a franquear as portas do porvir.

Vota! O apelo era um alaúde
a embalar a fome atávica da grei;
haverá trabalho, habitação, saúde,
tudo o que até agora não vos dei.

Mas o vento límpido, ingrato
naquele domingo de eleições
ia desfazendo o candidato
em cruéis, frenéticos rasgões.

E quando a noite desceu
um varredor indeciso,
sonâmbulo, varreu
os últimos detritos do sorriso.