domingo, 29 de agosto de 2010

A janela que abre para o mar... - Al Berto
















Quando aqui não estás

o que nos rodeou põe-se a morrer



a janela que abre para o mar

continua fechada só nos sonhos

me ergo

abro-a

deixo a frescura e a força da manhã

escorrerem pelos dedos prisioneiros

da tristeza

acordo

para a cegante claridade das ondas



um rosto desenvolve-se nítido

além

rasando o sal da imensa ausência

uma voz



quero morrer

com uma overdose de beleza



e num sussurro o corpo apaziguado

perscruta esse coração

esse

solitário caçador.



in Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea,