domingo, 28 de novembro de 2010

Companheira - Pedro Barroso


Homenagem no aniversário do poeta



Deixei pousar minha boca em tua fronte

toquei-te a pele como se fosses harpa

escorreguei em teu ventre como o vento

e atravessei-te em mim como se fosse farpa



Deixei crescer uma vontade devagar

deixei crescer no peito um infinito

morri da morte lenta do desejo

e em cada beijo abafei um grito



Quando desfolho o livro velho da memória

sinto que o tempo passado à tua beira

é um espaço bom que há na minha história

e foi bonito ter dito companheira



Inventei mil paisagens no teu peito

rebentei de loucura e fantasia

quando me olhavas devagar com esse jeito

e eu descobri tanta coisa que não vias



Havia em ti uma forma grande de incerteza

que conseguias converter em alegria

havia em ti um mar salgado de beleza

que me faz sentir saudades em cada dia



Quando desfolho o livro velho da memória

sinto que o tempo passado à tua beira

é um espaço bom que há na minha história

e foi bonito ter dito companheira



in "Roupas de Pátria, Roupas de Mulher", 1987