quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Requiem pelas Cartas de Amor à antiga... - Menina do Alto da Serra


"Todas as Cartas de Amor são ridículas" 
Cartas de amor...ainda guardo em caixas forradas de tecido e seladas com bonitas fitas de cetim, o tesouro precioso que são as cartas de amor que ao longo da vida recebi …
As velhas cartas de amor…uma espécie em vias de extinção: agora já não se cultiva a magia de uma boa carta de amor manuscrita, escrita na mais desenhada caligrafia e no papel mais requintado e(ou) perfumado... Com colagens ou elaborados desenhos a aguarela ou a carvão (sim … tenho autênticas obras de arte plástica que não só literárias entre as “minhas” cartas de amor) e as citações de versos de doces palavras que encerram saudades, beleza, ternura e paixão. Ou flores secas, madeixas de cabelos guardadas em minúsculos "embrulhos" de papel. Ou tudo aquilo que a imaginação dos apaixonados ditasse e coubesse no tamanho e pesagem de um envelope de papel...

Com a mudança de século (sim, eu ainda nasci e vivi no Século passado) e com as novas tecnologias, as palavras de amor reinventam novas formas de espalhar aos sete ventos os sentimentos indizíveis que nos povoam o coração e a alma e apagar a “doce dor” de uma longa (ou breve) ausência do ser amado. Claro…falo dos efémeros “SMS de amor” que urge ir apagando à medida que a memória do telemóvel se vai esgotando, os “emails de amor”...(e mais efémeras ainda: as mensagens de chat) e que nos arrancam sorrisos "tolos" no meio da multidão quando lidos, assim à "socapa", com a perigosa e deliciosa sensação de infringir regras de boa conduta e postura em certos meios ou situações sociais...
Não me queixo…pelo contrário…confesso que a mais bela carta de amor que recebi algum dia me chegou num email perdido algures na confusão da minha caixa de correio pessoal, num acordar de uma manhã longíqua de um Verão que já começa a parecer (tão) distante…
Ah…mas que tenho saudades…tenho. Da emoção contida na corrida escadaria abaixo para a caixa do correio, de pegar no envelope tão esperado e abrir apressada a “muralha” de papel que assim me separava das esperadas palavras de afecto….e de apertar a “carta do meu amor”, como um tesouro precioso bem juntinho ao meu peito.
Como diria o Poeta, as boas cartas de Amor Ridículas...que não seriam de amor se não fossem, assim, tão magnanimamente Ridículas...