sábado, 11 de setembro de 2010

De tanto te pensar - Hilda Hilst




De tanto te pensar, me veio a ilusão.

A mesma ilusão

Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.

De te pensar me deito nas aguadas

E acredito luzir e estar atada

Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.

De te sonhar, tenho nada,

Mas acredito em mim o ouro e o mundo.

De te amar, possuída de ossos e abismos

Acredito ter carne e vadiar

Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar

Tocando os outros

Acredito ter mãos, acredito ter boca

Quando só tenho patas e focinho.

De muito desejar altura e eternidade

Me vem a fantasia de que Existo e Sou.

Quando sou nada: égua fantasmagórica

Sorvendo a lua n'água.