quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desfolhada _ Ary dos Santos



Corpo de linho

lábios de mosto

meu corpo lindo

meu fogo posto.

Eira de milho

luar de Agosto

quem faz um filho

fá-lo por gosto.


É milho-rei

milho vermelho

cravo de carne

bago de amor

filho de um rei

que sendo velho

volta a nascer

quando há calor.


Minha palavra dita à luz do sol nascente

meu madrigal de madrugada

amor amor amor amor amor presente

em cada espiga desfolhada.


Minha raiz de pinho verde

meu céu azul tocando a serra

oh minha água e minha sede

oh mar ao sul da minha terra.


É trigo loiro

é além tejo

o meu país

neste momento

o sol o queima

o vento o beija

seara louca em movimento.


Minha palavra dita à luz do sol nascente

meu madrigal de madrugada

amor amor amor amor amor presente

em cada espiga desfolhada.


Olhos de amêndoa

cisterna escura

onde se alpendra

a desventura.

Moira escondida

moira encantada

lenda perdida

lenda encontrada.

Oh minha terra

minha aventura

casca de noz

desamparada.

Oh minha terra

minha lonjura

por mim perdida

por mim achada.