quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poema dos Olhos da Amada - Vinicius de Moraes


Oh, minha amada

Que os olhos teus

São cais noturnos

Cheios de adeus


São docas mansas

Trilhando luzes

Que brilham longe

Longe nos breus



Oh, minha amada

Que olhos os teus

Quanto mistério

Nos olhos teus


Quantos saveiros

Quantos navios

Quantos naufrágios

Nos olhos teus



Oh, minha amada

Que olhos os teus

Se Deus houvera

Fizera-os Deus

Pois não os fizera

Quem não soubera

Que há muitas eras

Nos olhos teus



Ah, minha amada

De olhos ateus

Cria a esperança

Nos olhos meus

De verem um dia

O olhar mendigo

Da poesia

Nos olhos teus.